28 de março de 2014

da série "quem disse que é bolinho" II


imagem, aqui


retomando o ato I, cena I de macbeth, que comentei antes aqui, os pontos centrais que eagleton destaca, são:
1. que, em treze versos, não menos de três estão no interrogativo, dois deles logo de saída
2. que são três bruxas, porém compõem uma espécie de unidade, como medonha paródia da santíssima trindade
3. que chuva, raio e trovão são três fenômenos, mas que eles também geralmente comparecem como uma unidade num temporal
4. que hurly-burly também encerra um jogo de diferença e igualdade, refletindo a diferença/igualdade da trindade das bruxas
5. que perder e ganhar igualmente encerra um jogo de diferença e igualdade, tanto por relação de complementaridade (um exército ganha enquanto outro perde) quanto por oposição interna (a vitória em guerra é também uma derrota), jogo este estabelecido pelo conectivo "e"
6. que fair/ foul aparecem em definições invertidas e polarizadas
7. e por aí vai.

dunque, a tradução dos versos terá de conter necessariamente:
1. todas as interrogativas, obviamente (à diferença, p.ex., das soluções de bandeira, nunes, heliodora, viégas-faria)
2. as três bruxas, claro (millôr, em sua adaptação, dá quatro [?])
3. os três elementos, claro, também (à diferença, p.ex., das soluções de bandeira e heliodora)
4. não consegui; estou pensando em usar "lufa-lufa" e manter hurly-burly para os comentários do autor
5. os dois termos opostos, também obviamente (à diferença, p.ex., das soluções de nunes)
6. os dois termos da definição, ainda obviamente (à diferença, p.ex., das soluções de bandeira e nunes)
7. e o que mais for preciso.

aqui, quem dá a toada para a tradução é o autor com seus comentários. como a ênfase de eagleton é muito mais sobre o sentido e as diversas conotações dos versos e da cena do que sobre a métrica e as rimas, sinto-me até certo ponto justificada em não me manter demasiado presa na camisa-de-força desses nem sempre muito rigorosos pentâmetros trocaicos ou como se chame. de qualquer modo, tentarei manter sempre que possível a preferência por monossílabos, dissílabos e, no máximo, trissílabos. para os dois grandiosos versos finais, tentarei uma assonância em u, à falta de conseguir qualquer coisa remotamente similar às belíssimas consonâncias em f.

vamos ver o que sai.

veja-se outro problema aqui.