25 de março de 2014

traduzindo e aprendendo




terminando o primeiro capítulo do livro, "inícios", eagleton, depois de tratar dos seis poemas antes citados, passa para:
  • esperando godot, de beckett 
  • o terceiro policial, de flann o'brien
  • poderes terrenos, de anthony burgess
  • 1984, de george orwell

no caso de 1984, eagleton apresenta o parágrafo inicial, que começa com a seguinte frase:
It was a bright day in April, and the clocks were striking thirteen.
ele comenta que "a primeira frase ganha efeito ao inserir cuidadosamente o número 'treze' numa descrição que, afora isso, nada teria de notável, assim indicando que a cena se passa em alguma civilização desconhecida ou no futuro". 

procurei o que havia de tão extraordinário no uso de thirteen. claro que a gente sabe que os ponteiros dos relógios marcam de 1 a 12 (exceto alguns modelos militares) e que, em inglês, diferencia-se o horário com o uso do a.m. e do p.m. (tal como dizemos "uma da manhã", "uma da tarde", embora, claro, tenhamos "treze horas"). mas não sabia da expressão "a décima-terceira batida do relógio", e estou com vontade de fazer uma nota de pé de página, mais ou menos assim:

A questão é que os relógios, de modo geral, não marcam as treze. O sistema horário analógico e mesmo digital utiliza o ciclo de doze horas, e os mecanismos de relógio, depois de marcar as doze, retomam o ciclo a partir da zero hora. Em inglês, distingue-se o horário pelo uso de a.m. (ante meridian, “antes do meio-dia”) e p.m. (post meridian, “depois do meio-dia”). Daí a estranheza apontada por Eagleton. Aliás, e por extensão, a expressão the thirteenth stroke of the clock designa, em matéria judicial, uma declaração visivelmente falsa de uma das partes, acarretando o descrédito de todas as suas declarações anteriores – com isso, Orwell também sugere que, no romance, todas as declarações do Estado devem ser postas em dúvida, pela perda de credibilidade indicada com a menção, já desde o início, à décima-terceira batida dos relógios da cidade.